A técnica de condicionamento físico que mais cresce hoje no mundo ajuda a todos os interessados a melhorarem a sua performance
Marcela Benvegnu | [email protected]
O nome parece complicado: Gyrotonic, mas não é. Gyro significa giro e tonic, tônico, ou seja, dar tônus. Criado no final dos anos 70 por Juliu Horvath, um bailarino que também foi ginasta, nadador, yogui, acupunturista, o método consiste na prática de exercícios físicos fluídos, rítmicos e circulares integrados à respiração, que obedecem a natureza do corpo humano e é baseado nos princípios chaves do yoga, taichi-chuan, natação e claro, do ballet.
O método fundamenta-se nos movimentos de rotação e torção, nos quais o corpo alcança a sua máxima mobilidade, explorando a amplitude de movimento das articulações. Eles podem ser feitos em máquinas apropriadas e também solo – este trabalho se chama Gyrokinesis.
“Quando Horvath criou o Gyrotonic, ele pensou na fluidez do movimento. A respiração dita o ritmo necessário e o trabalho é feito pelas articulações. Pensamos na mobilidade como se estivéssemos dentro da água, que permite o circular do corpo, pensando sempre na energia que está indo e voltando. No Gyrotonic não existem ações como abrir, fechar, dobrar, esticar. É um método funcional que trabalha as espirais do corpo para dentro e para fora. Movemos o corpo trabalhando força e flexibilidade em múltiplos planos”, fala Tati Malhado, do Respirartes, um estúdio voltado a prática do Gyrotonic.
Tati entende o Gyrotonic por um olhar de artista. Começou fazendo ballet clássico aos cinco anos de idade e se formou pela Escola de Ballet Clássico Sandra Nolla, em Florianópolis. Depois teve uma passagem pela Faculdade de Dança em Curitiba e se mudou para São Paulo. Aqui estudou com grandes nomes como Ismael Guiser, Jane Blauth e se encantou pelas artes cênicas. Se formou como atriz e hoje é certificada em Gyrokinesis e Gyrotonic. “Costumo dizer que trabalho há 20 anos com métodos de preparação corporal, para o palco e para vida”, fala a professora.
Segundo a especialista é importante saber que qualquer corpo pode praticar a técnica. “Ele é orgânico. Trabalha o corpo físico, o corpo metal – porque oxigena o cérebro e é preciso foco e atenção em cada um dos exercícios – e também o corpo energético. É preciso potencializar o corpo que somos, e qualquer corpo pode ser ainda mais potente”, fala. Tati revela que o método é o que mais cresce no mundo. “Ele é dado por bailarinos, praticado por bailarinos. Como é circular acaba sendo mais funcional. Trabalha força e flexibilidade simultaneamente, alonga as fibras musculares. Sem contar que podemos trabalhar a consciência corporal de cada indivíduo. Um bailarino tem necessidades diferentes de uma pessoa na melhor idade e, para cada corpo existe um tipo de benefício diferente”, completa.
“Já tive alunas que melhoraram o grau de depressão por conta da prática. O ângulo que você olha diz muito sobre você. O nosso corpo pode ser mais potente. O movimento de curva é uma conexão comigo mesma e quando eu me abro para o arco, de expansão eu me abro para vida. É uma conexão de dentro de fora. Temos que nos conectar para brilhar”, pontua Tati Malhado.
OLHAR DE QUEM FAZ
Clarissa Braga, 27, é uma bailarina profissional que hoje enveredou para o Gyrotonic e “não larga mais”. “Comecei a fazer ballet de uma forma muito intensa já com 9 anos quando entrei para a Escola Estadual de Danças Maria Olenewa da Fundação Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Como os ensaios e espetáculos sempre foram muito intensos, é natural que aos 17 anos, logo após a minha formatura, eu tivesse uma fratura por estresse no segundo metatarso dos dois pés. O indicado era que eu ficasse parada um mês pelo menos para voltar aos ensaios e aulas, já que tinha uma viagem marcada para fazer audições na Europa. Entrei em pânico porque teria apenas duas semanas para voltar à forma antes de viajar e minha professora e ensaiadora, Giselda Fernandes, me indicou que entrasse no Gyrotonic, um método que uma amiga sua, Virgínia Malm, dava aulas em Copacabana. Chegando lá, a Virgínia me explicou como o método tinha sido criado por um bailarino e como iria me ajudar a me manter em forma e talvez até melhorar minha performance. Em poucos dias já percebi como era muito especial, já que me ajudou a trabalhar a minha musculatura de forma diferente, descobrindo até novos músculos e uma maneira mais eficiente e menos desgastante. Isso tudo sem atrito no chão, que era o mais importante! A minha surpresa quando voltei um mês depois para a minha primeira aula de ballet foi a de que estava melhor do que quando tinha parado. Ficava melhor nos equilíbrios, tinha mais flexibilidade e me sentia mais inteligente na forma como usava meu corpo. Isso foi em dezembro de 2008 e nunca mais parei”.
Clarissa conta que para ela os benefícios são claros. “Durante todos os meus anos no mundo da dança vi amigas e colegas de trabalho com lesões sérias e com muita frequência eram crônicas e nunca curavam. Ter uma lesão séria antes dos 18 anos é normal para um bailarino, o que é uma realidade muito triste! Faço Gyrotonic há dez anos, nos quais dancei fora do país e na Cisne Negro Cia. de Dança, uma companhia com trabalho extremamente intenso o ano inteiro, e nunca mais tive uma lesão. Quando digo lesão incluo tudo mesmo, até as mais simples. Nunca mais. Essa é uma forma bem clara de ilustrar o quanto o Gyrotonic revoluciona a vida de qualquer um e principalmente de um bailarino. Ele trabalha toda a musculatura ao mesmo tempo em que alonga e descomprime as articulações e tudo isso com movimentos fluidos e ritmados com a respiração, trazendo uma qualidade de dança que é extremamente prazerosa além de eficiente. O Gyro mudou completamente a minha relação com meu corpo e me tornou muito mais consciente sobre como realizar movimentos extremos”, aponta.
A formação de um profissional na área de Gyrotonic é muito específica e envolve muito estudo. “Todo o processo dura em média um ano e meio. Costumo dizer que é um caminho sem volta. Quem faz se apaixona”, completa Clarissa que é aluna de Tati e dá aula no Respirartes ao seu lado.
Também bailarina, Thais França, 36, conheceu o Gyrotonic pelas redes sociais. A imagem chamou atenção de Thais porque lhe trazia uma sensação de fluidez, organicidade e muita mobilidade. “Brinco que existe a Thais antes e depois do Gyro. Não é só movimento, é conexão total. Posso estar com qualquer problema que saio da aula outra pessoa. Tudo que antes eu via, agora consigo sentir, a fluidez e mobilidade agora fazem parte da minha vida, além de trabalhar meu corpo todo de forma segura. Acredito nessa técnica por conseguir sentir os benefícios no meu corpo, ninguém me contou, eu vivi”. Thais, que foi bailarina do Balé da Cidade de São Paulo por quase uma década, e hoje tem um canal no Youtube chamado Conversa de Camarim – vale assistir aos seus vídeos – , revela que o Gyrotonic a deixa pronta e preparada para enfrentar os desafios dançantes que surgem. “Sinto que aciono a musculatura mais rápido e com mais eficiência, tornando meu corpo forte, porém maleável”.
E se você pensa que a técnica é somente para bailarinas profissionais, engana-se. A talentosa Luna Teixeira Pedrosa, 11 anos, que sonha em ser bailarina profissional da Ópera de Paris quando crescer, pratica Gyrotonic e conta que no início achou as aulas um pouco difíceis, mas depois entendeu como colocar o movimento no seu corpo. “Achei difícil por que precisa de concentração para fazer os exercícios corretamente, e como sou muito elétrica tive mais dificuldade, mas depois da terceira aula comecei a entender como coordenar a respiração com o movimento e aí sim ficou muito legal e divertida”, conta Luna. “O primeiro benefício que senti não foi diretamente no corpo, foi na mente, a concentração. Aos poucos fui sentindo mais facilidade para sustentar os braços e as costas, o que me ajudou muito nas piruetas, depois senti as pernas trabalhando melhor, com mais agilidade”, completa. Segundo Tati Malhado o trabalho com Luna é de aprimoramento. “Ela trabalha questões de força e consciência corporal, como usa cada potência, onde posiciona suas escápulas e também um trabalho de concentração, de silêncio para ela se conectar com ela mesma”, fala a professora.
E se você não é bailarina e acha que por isso não pode fazer aulas de Gyrotonic, pode tirar isso da cabeça. A médica Patrícia Blum, que é hematologista pediátrica, faz aulas regulares há mais de dez anos. “Há cerca de 12 anos comecei a fazer Pilates e há oito anos, três meses depois de ter bebê, fiz minha primeira aula de Gyrotonic. O Gyro fez eu me apaixonar por me mover e acreditar que é possível mudar. Sempre tive uma restrição articular na região escapular e tensão cervical, e com o tempo e um cuidado em reforçar os exercícios nesta área, hoje faço movimentos que nunca fiz na vida e não tenho mais aquela tensão cervical. Também mantenho um alongamento difícil de ver nas pessoas da minha idade e que trabalham na minha área e isso de reflete em saúde e qualidade de vida”, fala Patrícia. “Como médica, não posso imaginar nada mais completo. Todos têm condições de praticar, de adolescentes a idosos, não tem sobrecarga articular, promove um grau de esforço aeróbico, alongamento, força, tudo que favorece o coração, as articulações e os ossos. Mas principalmente aumenta a consciência corporal, mantendo o cérebro estimulado e a autoestima”.
E você já experimentou uma aula de Gyrotonic? Conta para nós.
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