“O traço que seu corpo deixa no espaço é um feedback simples, imediato e agradável da sua existência”. Simona Lobefaro
Marcela Benvegnu | [email protected]
Se você é daqueles que dizem por aí “não sei desenhar” ou “não sei dançar”, isso vai mudar depois que você conhecer a Segni Mossi. Afinal o que é dançar, ou desenhar? E qual o critério que temos para validar se fazemos isso bem ou não? E quem disse que precisamos responder essas questões. Simona Lobefaro e Alessandro Lumare são os criadores de uma forma de pensar o corpo (eles dizem que não é um método) que ganhou o coração dos italianos há alguns anos e já chega em várias partes do mundo.
No próximo final de semana eles estarão no Rio de Janeiro para um curso. Esse projeto foi eleito como um dos mais inventivos programas educacionais dos últimos tempos. Quer saber o que é? Como funciona? Confira na conversa abaixo e não deixe de ver os vídeos, porque com certeza você vai querer experimentar.
Antes de começarmos a conversar gostaria que me explicasse o que é Segni Mossi…
Segni significa traços, Mossi significa movimento, assim Traços em Movimento. Segni Mossi é sobre o encontro entre nossas duas linguagens: dança e desenho.
E de onde veio a ideia de juntar dança e desenho? Como foi isso?
Isso aconteceu em 2014, em Roma. Eu, Simona, como bailarina e coreógrafa de dança contemporânea, desde muito tempo investigo uma dança que não tinha a ver com habilidade ou formas, mas muito mais com comunicação. Entendo o corpo como uma ponte entre o mundo interno e externo.
E isso é o que também estava trazendo em minhas oficinas de dança para crianças. Alessandro, é artista gráfico e conduzia oficinas de desenho para crianças com uma abordagem muito sensível. Desenhar é como uma experiência, é uma maneira de descobrir redescobrir o mundo ao nosso redor. E quando vimos estávamos já um colaborando com a pesquisa do outro.
Todos os elementos do Segni Mossi já estavam ali quando Fabrizio Pallara, diretor de teatro, nos pediu uma apresentação interativa para crianças e adultos. Criamos “Al Cubo”, nossa primeira experiência de dança e desenho. Foi realmente emocionante e sentimos a potencialidade de cada traço, de cada movimento. Então a Mus-e – uma organização europeia socioeducativa na qual eu já estava trabalhando – estava procurando atividades co-conduzidas. Foi nesse momento que Segni Mossi nasceu e percebemos que a dança e o desenho tinham muito a compartilhar e, a partir daquele dia, nunca paramos.
Segni Mossi foi eleito como um dos mais inventivos programas educacionais dos últimos tempos pelo HundrED. Você pode me falar mais sobre isso?
Eles dizem que muitos jovens (e adultos) se afastam das atividades artísticas por medo de serem ruins para eles. E nós tendemos a transformar nossos fracassos percebidos – ou simplesmente falta de reconhecimento ou encorajamento em um assunto – em uma parte da nossa identidade. Torna-se um fato que repetimos sobre nós mesmos, como “não sei desenhar” ou “não sei dançar”. Como os educadores podem superar esse obstáculo e ajudar as crianças a descobrirem a alegria de se expressar através das artes, não importando suas habilidades técnicas?
Segni Mossi coloca esta questão fundamental no centro do trabalho, para ajudar os alunos a superar esses medos e encontrar novas maneiras de se expressar. Removendo o medo do fracasso – não havendo resposta errada – as crianças podem aproveitar e participar de encontros e arte e dança.
E como isso é podemos dizer… ensinado?
Na verdade, não ensinamos isso, somos nós que aprendemos muito com as crianças. Quando começamos o Segni Mossi, não tínhamos nenhum programa. Todas as propostas que desenvolvemos foram inspiradas na energia das crianças. Nós gostamos de experimentar junto com elas. Chegamos com algumas perguntas “impossíveis”, e então, com elas, exploramos várias respostas. Nós acreditamos no processo, no inesperado. Acreditamos no risco, no desconforto de encontrar algo novo, para ir além dos nossos limites. Acreditamos na experiência do grupo.
Como são esses cursos? No Rio de Janeiro vocês ministrarão o RED (vermelho) e o YELLOW (amarelo). Mas sei que também existe o ORANGE (laranja) e o PINK, correto?
Esses são os nossos treinamentos do programa para adultos: amarelo, laranja, vermelho e rosa. Eles coletam os experimentos realizados até agora. Não há uma ordem a seguir, eles são programas independentes, mas todos igualmente cruzados pelos ingredientes básicos: exploração, colaboração, surpresa, rigor e diversão. Cada um trabalha uma potencialidade diferente.
Para as crianças, qual o significado mais poderoso de conectar a dança e o desenho?
O traço que seu corpo deixa no espaço é um feedback simples, imediato e agradável da sua existência. Deixamos um rastro como uma maneira de encontrar o nosso espaço no mundo. A questão é que não é apenas conectar dança e desenhar, precisamos praticar muitas outras conexões para aproveitar tudo isso. Precisamos conectar o mundo emocional e deixá-lo espalhar-se por meio do nosso corpo para o espaço. Precisamos nos conectar com os outros e estar ciente de suas peculiaridades e diferenças e como elas podem enriquecer todo o grupo.
Para você e para o Alessandro, qual a importância do Segni Mossi para a vida?
Segni Mossi não é um método. É um projeto de pesquisa em contínua transformação. Isso nos envolve como artistas e pessoas. Sentimos que não há separação entre as experiências artísticas e a vida porque tudo está conectado.
Como é para vocês verem todas essas crianças dançando, desenhando e sorrindo durante os cursos?
Somos totalmente fascinados pelo mundo das crianças, seu processo de crescimento, frágil e poderoso ao mesmo tempo. E ficamos muito comovidos quando elas, aula após aula, encontram seu caminho para expressar suas emoções e desejos mais profundos. Também é tão bom vê-los conscientizando-se que fazer parte de um grupo. Encontramos o jeito de ouvir, interagir, colaborar com cada uma delas diariamente.
E qual o objetivo principal desta técnica?
Existem tantos, não podemos escolher um. Depende das necessidades de cada criança, cada grupo de sala de aula, cada objetivo escolar. Valorizar o sinal e libertá-lo de qualquer subordinação representativa; facilitar a conscientização do corpo e estimular seu potencial motor e criativo; explorar a conexão entre as qualidades expressivas dos movimentos do corpo e as qualidades expressivas do signo; persistir no processo criativo e não no resultado; considerar a experimentação como um método de trabalho; desenvolver um pensamento crítico, ganhar confiança individual e do outro, cooperação, desenvolver as relações de grupo e socialização respeitando valores e diferenças culturais…
Essa é a terceira vez de vocês no Brasil. Vocês gostam daqui?
Sentimos um grande entusiasmo e curiosidade pela criatividade. Conhecemos muitas pessoas envolvidas em projetos sociais que realmente nos impressionaram com sua coragem e paixão.
Vejam o vídeo abaixo, no Brasil.
PARA DANÇAR: Dias 16 e 17 de fevereiro, no Centro Coreográfico do Rio de Janeiro (Rua José Higino, 115 – Tijuca). Informações pelo [email protected] e para se cadastrar para próximos eventos: [email protected]
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