Com coreografia e direção de movimento de Kátia Barros montagem com composições de Andrew Lloyd Weber chega a São Paulo.
Marcela Benvegnu | [email protected]
Glamour, poder e cobiça no musical que fez história na Broadway. Assim é “Sunset Boulevard”, superprodução que estreou em São Paulo (são muitas estreias que dividimos esse mês com vocês) e marca o retorno aos palcos de uma das duplas mais queridas do teatro brasileiro: Marisa Orth e Daniel Boaventura. Eles são os protagonistas do espetáculo vencedor de sete Tony Awards, com músicas de Andrew Lloyd Weber. A direção artística da montagem brasileira é de Fred Hanson e as coreografias e a direção de movimento são de Kátia Barros (Annie, Cantando na Chuva, entre outros). Em cartaz no Teatro Santander e é mais uma coprodução da IMM Esporte e Entretenimento e da empresária e produtora Stephanie Mayorkis, da EGG Entretenimento.
“Estamos sempre em busca de títulos de interesse do público brasileiro e com nossas premissas: grandes musicais da Broadway produzidos com primeiro nível de qualidade. Foi assim com ‘My Fair Lady’, ‘Cantando na Chuva’ e ‘A Pequena Sereia da Disney’. E estamos seguros que será também com ‘Sunset Boulevard’, uma verdadeira obra-prima de Andrew Lloyd Webber sobre os bastidores de Hollywood com músicas lindíssimas, que irão merecer inclusive que a orquestra fique localizada no palco. Tanto que venceu 7 Tony Awards, inclusive Melhor Musical. Com tantos atributos, faz parte dos grandes clássicos da Broadway e não poderia deixar de ser visto no Brasil”, afirma Stephanie Mayorkis, Coprodutora do espetáculo em conjunto com a IMM Esporte e Entretenimento.
Marisa Orth tem o desafio de viver Norma Desmond, uma estrela da era do cinema mudo que vive em sua mansão na Sunset Boulevard em um mundo de fantasia. Na Broadway e em Londres, o papel foi de Glenn Close, que arrebatou público e crítica, levando a estatueta de Melhor Atriz no Tony Awards pela performance. “Glenn Close, pra mim, é um ídolo. Trata-se de uma das maiores atrizes/artistas e agora descubro também cantora, que nortearam a minha geração. É um sonho fazer um papel vivido por ela”, diz. E complementa: “Fazer ‘Sunset Boulevard’ é um desafio. Essa é a primeira palavra que me vem à mente. Um enorme desafio como atriz, como cantora, e, por isso, um enorme prazer. Se conseguir lograr o efeito de conduzir todo mundo comigo já vou ficar muito satisfeita”, afirma.
Quer assistir um trecho?
Daniel Boaventura é Max von Mayerling, mordomo de Norma, que na montagem original foi interpretado por George Hearn, também vencedor de um Tony pelo papel. “Será um personagem soturno, introspectivo, porém sua presença na estória é forte e esconde um grande segredo”, adianta. “Fazer parte de um musical de tão grande importância, sem dúvida, é motivo para celebração, mas a responsabilidade é também muito grande. ‘Sunset Boulevard’ representa um dos grandes sucessos do compositor Andrew Lloyd Webber”, comenta.
A superprodução brasileira conta ainda com 28 atores/cantores, além de uma orquestra de 16 músicos que se estão em cena. A atuação de Julio Assad (Joe Gillis) é primorosa. Ele segura a cena como ninguém ao contracenar com Marisa Orth. A orquestra em cena dirigida por Carlos Bauzys é segura e potente. O cenário de Matt Kinley são rolos de filme de cinema antigos que vão ganhando movimento pela luz sensacional de Cory Pattak. E não poderíamos deixar de notar o figurino muito bem construído que também traz cor à cena de Fause Haten.
COREOGRAFIA –
Katia Barros bailarina, coreógrafa, diretora, professora e atriz é quem assina a coreografia e a direção do musical. Seu trabalho aparece na obra de uma forma extremamente bem colocada, a coreografia é criada para um espetáculo teatral, tem qualidade, técnica, humor. Sua direção de movimento cuida de cada detalhe para a cena ficar ainda mais harmônica. Formada pela Escola de Teatro Célia Helena, Katia teve como mestres grandes nomes da dança, entre eles: Roseli Rodrigues e Marcio Rongetti. Em seu currículo podemos ver atuação em vários musicais como atriz – “Chicago”, “Sweet Charity”, “Miss Saigon”, “Cabaret”, entre outros. Além disso foi coreógrafa de importantes musicais” como Cantando na chuva”, “Rent”, “Divas”, “Garota de Ipanema- O amor é bossa ”, “Vingança”, “A Madrinha Embriagada”, “O Médico e o Monstro”, “Baby – O Musical”, “O Menino Maluquinho”, “O Homem de La Mancha” – pelo qual recebeu o prêmio Bibi Ferreira de melhor coreografia, entre outros. Conversamos com ela sobre o processo criativo de “Sunset Boulevard”
Como surgiu o convite para essa coreografia e como você pensou a sua construção?
Kátia Barros: O diretor, Fred Hanson, me ligou de NYC para contar que iria digirir “Sunset” e que estava montando sua equipe. Me perguntou se eu gostava da história e se me interessava em coreografa. Claro que aceitei. A partir da direção de movimento, as relações entre cada personagem no ensamble me ajudaram a criar a atmosfera em volta da Paramount da época. Fizemos alguns laboratórios e coloquei o elenco dentro das situações do cenário para experimentar o ambiente, os props, as relações, gestos ações. Depois fui recortando e dando uma natureza de movimentos diferentes através de velocidades, repetições, pausas, a muitas vezes alguma sequência de movimentos.
Você começa o trabalho sabendo exatamente o que vai fazer?
Kátia Barros: O Fred Hanson tem um método de estudo e concepção que nos preenche muito do universo que ele deseja para a encenação e com isso começamos a conceber as ideias, cenário, e estudos das estratégias um ano antes, para assim aplicá-las ao elenco e não perdermos tanto tempo sem saber o que se quer de verdade. Isso ajuda muito, no meu caso por exemplo logo encontro qual método usarei para chegar onde ele quer em questão de movimentação e dinâmica sem me perder na zona de conforto. Trabalhamos a distância por muitos meses e isso foi imprescindível, pois alguns criativos não moram no Brasil. A música, a apresentação do cenário e do contexto e os laboratórios são os primeiros passos do nosso trabalho na primeira semana assim como o rascunho do primeiro ato e em seguida. Enquanto refinamos o que foi criado, o segundo ato é levantado. A ideia é termos tudo em três semanas e meia para que os próximos passos sejam a entrada no teatro de apresentação, onde começa toda a parte técnica, os ensaios corridos.
Como o cenário influencia na cena?
Kátia Barros: O cenário nesse caso tem uma atmosfera muito especial que ajuda a entrarmos dentro do mundo psicológico da Norma. Kinley foi genial nessa magia.
Como foi a rotina de ensaios?
Kátia Barros: Tivemos uma rotina de 6 dias na semana de 8 horas de ensaio por dia. Existia um cronograma que já era estudado pelo Fred e ajustado todos os dias com o fluxo das atividades. A equipe de stages é fantástica que nos ajudou muito na dinâmica, e tudo que precisávamos estava ao nosso alcance para ambientar os atores o mais próximo possível da história em questão de cenário e rotina, um luxo que a IMM se esforçou para que assim tudo tivesse o tempo apropriado para nosso cronograma.
Qual a diferença do coreógrafo para o diretor de movimento?
Kátia Barros: Na minha experiência pessoal, a questão de dirigir a movimentação cênica da história tem relação direta com a coreografia, pois no teatro musical o que ajuda a contar a história precisa ajudar a plateia a entender o que está sendo contado. É preciso manter o público no encantamento. Assim como um momento de dança entrega uma cena a outra, ou uma convenção em meio a uma cena ganha uma licença poética e se torna a emoção em forma de dança, assim acontece nas relações do ensamble onde a partitura de movimentos se torna o quadro dançante que impulsiona a plateia em suas emoções. Isso para mim já é dança, então o coreógrafo precisa se despir em prol do que está sendo contado Naquele momento, para que a plateia não perca a história.
Como é trabalhar com o Fred?
Kátia Barros: Costumo falar que o Fred é o orientador do meu mestrado em teatro musical, pois ele foi um professor para mim quando a jornada do palco para atrás do palco começou a ser mais intensa em minha vida e assim ele continua. Com ele aprendo mais e mais como se trabalhar em teatro musical, no palco ou atrás dele com harmonia e previsão.
Como é a relação do coreógrafo com o regente?
Kátia Barros: O diretor musical é a peça chave da engrenagem. Quando a música toca tudo se movimenta, toda nossa escrita fica nas mãos do regente. Ele é como um mágico e a escrita coreográfica são cartas na sua manga. A parceria entre nós começa desde o início para que tudo flua bem com as vozes, transições, e refinamentos, o tempo todo conversamos para nos ajudar. As vezes até ganhar um trecho maior da dança. (risos).
E como foi ver tudo no palco em movimento depois da estreia?
Kátia Barros: Depois de um processo tão especial como foi o de “Sunset Boulevard”ver essa história no palco, em cada movimento pensado em equipe, o passo a passo dessa partitura cênica, foi como atravessar um oceano e chegar do outro lado com uma missão cumprida de uma forma muito feliz.
Aqui você vê a primeira versão com Gleen Close:
CURIOSIDADES –
“Sunset Boulevard” baseado no filme de Billy Wilder (conhecido no Brasil como “Crepúsculo dos Deuses”), tem música de Andrew Lloyd Webber com letras de Christopher Hampton e Don Black; e orquestrações de David Cullen & Andrew Lloyd Webber. No total, “Sunset Boulevard” recebeu 11 indicações ao Tony Awards e venceu 7. São elas: Melhor Musical, Melhor Música Original – Andrew Lloyd Webber, Don Blacke Christopher Hampton, Melhor Libreto de Musical – Don Black e Christopher Hampton, Melhor Performance de uma Atriz Principal em Musical – Glenn Close, Melhor Performance de um Ator Coadjuvante em Musical – George Hearn, Melhor Design Cênico – John Napier e Melhor Design de Iluminação – Andrew Bridge. O espetáculo no Brasil é apresentado através de um acordo especial com a The Really Useful Group, com realização do Ministério da Cidadania, IMM Esporte e Entretenimento, EGG Entretenimento e Governo Federal.
PARA VER –
Sunset Boulevard. Até dia 7 de julho de 2019 no Teatro Santander (Complexo do Shopping JK – Av. Juscelino Kubitschek, 2041 – Itaim Bibi – SP). Quintas e sextas, às 21h; sábados, às 17h e 21h; e domingos, às 15h e 19h. Duração: 2h30min (com intervalo de 15 minutos). Ingressos a partir de R$37,50 pela
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