Por Marcela Benvegnu | [email protected]
Cinco mães e 13 filhos. Liliane de Grammont dançou grávida em uma turnê internacional do Balé da Cidade de São Paulo (escondida). Bettina Delcanale tem quatro filhos e ao lado deles fez uma carreira brilhante no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Sabrina Martins Schavarz é mãe de cinco (ela tem trigêmeas!) e se reveza nos papéis de mãe, professora e empresária. Renata Bardazzi descobriu que estava grávida quando dançava na Alemanha e hoje tem um filho adolescente que se acostumou a rotina da mãe, bailarina do Balé da Cidade de São Paulo. Camila Lorenzzetti tem uma escola em Santa Catarina e dois filhos. O que essas mulheres têm em comum? A paixão pela dança e a maternidade. Na véspera do dia das mães conversamos com cada uma sobre a sua história e como foi e é conciliar os filhos com a dança. São histórias de amor e superação. E como nos disse a Bettina: “A maternidade foi com certeza o meu maior espetáculo”. Feliz Dia das Mães para todas as mães!
LILIANE DE GRAMMONT: MÚSICA E DANÇA
Iniciei os estudos com 13 anos e nunca mais parei. Sou filha de dois cantores. Um deles bem famoso nos anos 70/80, o Lindomar Castilho, que compôs “Você é Doida Demais”, entre outros sucessos. Hoje sinceramente, já não sei se a nova geração se recorda… Perdi meus pais muito cedo de maneira bem trágica. Uma longa história, fui criada por minha avó materna. Quando completei 12 anos, ela teve um cancêr e ficou muito doente. Ela, também, era artista, compositora e poetiza. Me incentivou a dançar… Logo ela acabou não resistindo a doença, e eu já na dança, dancei todas as minhas dores e lutos até me tornar profissional. Brinco que me tornei bailarina porque a dança me salvou. Me tirou de um lugar escuro, sombrio, me tirou do luto e trouxe vida, sonho. A determinação, o suor do dia a dia, me doaram esperança e vontade de seguir; e estou aqui até hoje. Feliz, cheia de garra, com meu filho no colo, porque a dança me proporcionou isto. Sou só gratidão!
DESCOBERTA
Com meus 36 anos, dançando no Balé da Cidade de São Paulo, me senti muito estranha… Bailarino tem uma escuta do próprio corpo impressionante, né? Reparei que estava com sono em demasia e algo estava diferente. Fui assistir um show do meu marido, que é saxofonista. Na banda dele, toca também o Derico, antigo músico do Jô Soares. Ele, super nosso amigo falou: Lili! Você tá gravida… Isso no intervalo do show da banda deles. Aí eles voltaram pro palco e eu fiquei lá na mesa, pensativa… Eu realmente estava estranha e resolvi tirar a teima naquela hora. Fui a uma farmácia, peguei um teste e voltei pro show. Fui ao banheiro e lá mesmo resolvi o assunto da dúvida. Lembro que estava tocando, “True Colors” na versão jazz, na voz rouca do Tony Gordon, o cantor da banda. Parece mentira, mas foi exatamente assim… Fiquei o resto do show em choque! Com aquele teste na bolsa com as duas linhas positivas. “I see your true colors/That’s how I love you/So don’t be afraid”.
EM TURNÊ
A parte mais delicada da minha gestação foi conciliar com a dança. O Teatro Municipal na época contratava seus bailarinos de forma irregular. Eu estava lá há quase nove anos e não tinha direito a engravidar, a machucar. Hoje, graças a esforços de muitas gerações os bailarinos são contratados com regularidade. Mas na época eu não tive coragem de contar para minha diretora, a Iracity Cardoso, que tinha acabado de assumir a direção, até ter certeza que ela conhecia o meu trabalho. A Ira é muito atenta, mas sempre fui muito dedicada e caxias na profissão e ela não notou nada! Dancei normalmente sem nenhuma alteração de rotina até os quatro meses. Saltava, girava, estava em perfeita saúde. Eu e meu bebê. Fui acompanhada por um médico especialista em atletas. Fui dançar em Portugal com quatro meses e tinha bem pouca barriga, somente quem sabia eram meus partners, até porque sempre fui escolhida para os trios e duos aéreos. Depois que contei para a Ira, lá em Portugal, no último dia de turnê, parece que a barriga veio com tudo. Passei a ajudar na cia de outras maneiras, no acervo de vídeos e fotos, como assistente de ensaio na montagem de “Uneven” de Cayetano Soto, como coreógrafa em workshops.
DEPOIS
Nunca me passou pela cabeça parar de dançar. Isso não é uma opção! Dançar pra mim, é vital. Tenho que estar envolvida com dança de alguma maneira. Quero ser que nem Renée Gumiel, morrer fazendo o que amo. No Balé da Cidade, na época, o Guilherme tinha apenas dois meses e Ira me pediu para voltar. Ele virou por um tempo o mascote da Cia. Não deixei de amamentar, aceitei desde que pudesse ser mãe. Deu tudo certo. Hoje atuo na cena da dança independente. Trabalho como bailarina por projetos. Montei uma sala para ensaio em casa. Chamo de Sala Lá em Casa. Este passo foi dado principalmente para conseguir ser mãe e bailarina. Claro, que vida de artista é loucura, correria, muito trabalho mesmo. Sempre fico com a sensação de que poderia ter ainda mais tempo com ele. Meu filho desconhece uma rotina diferente desta, desde os dois meses está assistindo ensaios. Hoje ele entra na sala Lá em Casa, conta cinco, seis, sete e oito… Dá um jeito de fazer umas correções. Muito engraçado. Para ele é natural. Sabe que tem que ficar em silêncio. Mas de vez em quando dá aquele trabalho, como toda criança de cinco anos. Ele gosta de cantar. Acho que puxou a família de músicos. Meus pais, meu marido, meu sogro e minha sogra, que são eruditos. Quando pergunto, você quer dançar filho? Ele fala: Odeio dançar… Gosto só de assistir. E quando a gente perguntou para ele como é ter uma mãe bailarina ele diz: Legal! Você gosta de dançar…
BETTINA DALCANALE: SER MÃE DE QUATRO
Comecei a fazer balé aos 13 anos diferentemente das meninas que ingressavam ao balé logo no baby class. Eu pedi para entrar no balé contrariando, no bom sentido, o fluxo da família que era toda foçada nos cavalos e na equitação. Eu mesma pratiquei o esporte até ingressar no balé. Foi amor à primeira vista. Comecei e nunca mais parei ate me aposentar em 2012 quando decidi sair de cena dignamente. Tive o privilégio de encerrar minha carreira fazendo Tatiana em Eugene Onegin, balé de John Cranko baseado em um belíssimo romance de Pushkin, no Theatro Munincipal do Rio de Janeiro. Eu sempre quis estar grávida e ter muitos filhos. Mas demorei pra engravidar em consequência de ovário policístico. Descobri que estava grávida com três meses completos de gravidez e dançando loucamente. Fiz Lago dos Cisnes completo em Curitiba uma semana depois de descobrir que estava grávida. E assim foram as outras três gravidezes. Sempre descobri com 3 meses pois tinha um ciclo muito irregular. Acho gravidez um estado de graça e por mim teria tido mais quatro. Mas devo dizer que conciliar a carreira e uma família grande é bem difícil além de muito caro (risos).
Sempre consegui conciliar a maternidade e minha profissão como bailarina. Não foi fácil, mas com muita perseverança e vontade podemos fazer tudo o que queremos. É nisto que acredito e é isto que passo aos meus quatro filhos. E quando todos eles nasceram nunca pensei que não fosse mais possível dançar, mas tenho que confessar que foi muito duro deixar o bebê em casa e voltar a trabalhar. Sou uma mãe intensa que amamentou o quanto pode, mas também fui uma bailarina intensa super dedicada e focada à minha escolha de vida. Passei muitas noites em claro tendo que ir trabalhar duro com o corpo, mente e alma praticamente sem dormir, mas garanto que valeu cada segundo e sei que se tivesse que fazer tudo de novo, eu o faria sem tirar uma vírgula desta história.
HOJE
Hoje meus filhos já são crescidos e eu também já não me apresento mais. Quando encerrei a carreira aos 51 anos, me mudei para Londres e decidi mudar o foco totalmente. Fiz um curso de personal trainer e fui dar aulas de variados tipos. Barre que é uma combinação de aula de balé clássico com malhação com pesinhos, elásticos e bola. Aula de Body Balance que é uma formação Les Mills onde combina yoga, tai chi e pilates e body attack. Com as crianças crescidas e mais independentes tudo se torna mais fácil. Mas no período em que estava no Theatro Municipal com os quatro ainda pequenos era sempre um “vuco vuco” maravilhoso. Não dava pra se entediar. Conciliar nossa carga horária com médicos, reuniões de escola e muitas brincadeiras foram tarefas sempre árduas, mas eu nunca gostei de coisas fáceis sabe e sempre encarei todos os momentos com muita alegria. E eles entre si sempre acabavam se ajudando. Quando por ventura tinha reunião na escola e eu tinha ensaios, meu marido assumia magnificamente e quando por ventura ele estava viajando minha filha mais velha assumia o papel lindamente na reunião dos menores. Sempre formamos uma equipe sabe. Nas horas boas e nas não tão boas também. União e amor sempre foi nosso lema. Meus filhos sempre curtiram ver a mãe dançar graças a Deus. Tinham muito orgulho do que eu escolhi ser e sempre curtiam os balés que iam assistir. Sempre contei as histórias pra que soubessem o que iriam assistir e quando era um espetáculo mais contemporâneo explicava a onda do espetáculo, coreografia, coreógrafos, música e sempre estavam integrados e animados em assistir. Minha terceira filha quase decidiu pela profissão, mas na linha do gol resolveu seguir outra coisa. Mas até hoje ama balé e é minha grande companheira aos espetáculos do Royal Opera House onde sempre priorizamos prestigiar nossos amigos brasileiros.
GRÁVIDA NO PALCO
Dancei as quatro vezes gravidíssimas. Sempre ficava mais sensível, mas nunca tive problemas. Dancei La Fille Mal Gardee com quase quatro meses e como na história a Lise quer muito ser mãe e imagina a situação de ter os filhos posso afirmar que foi bastante emocionante. Na história ela imagina ter três filhos, quando dancei o balé pela primeira vez não tinha nenhum, depois dancei grávida da primeira e assim sucessivamente até a última vez já com os quatro filhos assistindo. Miss Jane a ensaiadora e remontadora do balé disse para que eu fizesse na hora do sonho da menina em ser mãe onde imaginava um filho pegando no colo, o outro mandando estudar e outro se aquietar pois na história original eram três, ela mandou que acrescentasse mais um. Meus filhos na plateia que já conheciam o balé levaram um susto e chegaram a rir. Foi muito especial. Tenho três filhas e um filho, na escadinha o menino é o segundo. Acho que sempre se orgulharam por ter uma mãe bailarina. E sempre me apoiaram durante os processos de ensaios para um novo balé. Não é uma carreira convencional e também não é fácil. Temos que nos esforçar sempre para poder manter a mesma técnica e a mesma qualidade de trabalho, aliás é uma profissão que quanto mais velhas ficamos mais temos que trabalhar para manter a mesma vivacidade e técnica da juventude. Tem que ter muita perseverança e foco. Mas posso afirmar que meus quatro filhos me ajudaram muito neste processo e me fizeram chegar onde cheguei. Não imagino a minha vida sem eles e sem o balé.
Está é minha história. Tive o privilégio de poder construir esta minha família tão especial e conciliar com esta carreira tão exigente e infelizmente pouco reconhecida. No Brasil muitas pessoas ainda acham que balé é um hobbie e nem imaginam o quanto um bailarino tem que trabalhar e se dedicar até chegar a ser um profissional. A
maternidade foi com certeza o meu maior espetáculo e que “sim” é muito possível conciliar as duas coisas lindamente desde que façamos com muito amor.
RENATA BARDAZZI: UM FILHO ADOLESCENTE
Comecei a dançar aos 5 anos em Mogi das Cruzes por insistência da minha avó materna que ao me ver em uma apresentação de escola achou que eu tinha talento. E foi que eu me apaixonei por esta arte. Dancei em algumas companhias como a Cia. Cisne Negro, a São Paulo Companhia de Dança e hoje sou bailarina do Balé da Cidade de São Paulo. Quando descobri que estava grávida foi um desespero! Eu tinha apenas 18 anos com um contrato de estagiária em uma companhia na Alemanha o qual tive que abrir mão. Voltei para o Brasil e fazia algumas aulas para manter a técnica, porque eu não tinha emprego aqui, mas sabia que assim que ele nascesse eu precisaria ir atrás de algo. Assim não deixei de fazer aula de ballet nem um dia … eu era muito determinada.
ADOLESCENTE
Depois que o Matteo nasceu eu voltei a forma muito rápido, o que me mostrou que eu ainda poderia dançar e muito. Eu tinha muita garra e queria muito trabalhar com isso. O tempo passou e as coisas foram dando certo, se encaixando. Hoje tenho uma rotina pesada, principalmente agora que ele está com 14 anos. Na infância eu tinha ajuda de muita gente da família, e uma ajuda mega especial da minha mãe que foi quem me proporcionou continuar na área podendo cumprir tudo que uma companhia de dança pede como turnês, temporadas e muita dedicação também fora dali. Hoje ele é adolescente, então tudo fica mais complicado… Está num momento de formação de caráter e eu preciso estar perto o tempo todo. Tenho ajuda do pai que divide a guarda comigo, mas mesmo assim, é uma demanda grande. Leva e traz, comida, escola, cuidado com o telefone, festas, álcool, amizades, direcionamento como ser humano e emocional. Um filho demanda muita atenção o tempo todo, assim como a dança.
OLHARES
Ele está completamente habituado as salas de ensaio. Me lembro que levava ele enquanto amamentava. Nessa época eu trabalhava na Cisne Negro e me lembro que no dia da audição ele foi junto comigo e ficou no carrinho assistindo. Ele
tinha só 6 meses. Para o Matteo, é muito “legal ter uma mãe que trabalha com arte. É diferente da dos meus amigos, a mãe deles também é legalm, mas a minha é mais jovem e é mais próxima do que eu vivo e penso. Temos uma relação muito legal”.
SABRINA MARTINS SCHVARCZ: MÃE DE CINCO (ela tem trigêmeas!)
Tenho uma irmã mais velha que já fazia ballet, é só de assisti-la nas aulas e apresentações já tinha vontade de começar. Gostava tanto que me lembro de ficar vendo as aulas e aprendendo as coreografias no cantinho da sala. Minha dizia que eu só poderia começar a fazer com 6 anos, eu fiz aniversário em julho e em agosto comecei. Eu sempre quis muito ser mãe, então logo depois que casei já queria engravidar. Minha primeira gravidez foi planejada e aconteceu rápido, comemorei muito quando o teste de farmácia deu positivo. Minha segunda gravidez aconteceu meio no “susto”, minha primogênita não tinha nem 8 meses quando eu descobri que estava grávida de novo de quase dois meses! Estava desconfiada, e quando confirmei com um teste de farmácia fiquei assustada, mas logo curti a ideia. As gravidez das trigêmeas aconteceu depois de seis anos, logo depois do meu segundo casamento. Como meus filhos mais velhos já estavam com 6 e 7 anos. Engravidei rápido e comemoramos muito quando o teste deu positivo, o susto mesmo veio algumas semanas depois, quando descobrimos que a gravidez era trigemelar!
DANÇA E MATERNIDADE
Na primeira e na segunda gravidez eu era nova e dancei até quase o quinto mês sem problema nenhum! Continuava fazendo aulas e dançando! Já na gravidez das trigêmeas eu já estava mais parada, e por ser uma gravidez de risco, não podia fazer exercícios físicos. A gravidez muda muito o corpo da gente. Eu engordei muito durante minhas gestações, então sofri muito para voltar ao meu peso depois e conseguir dançar sem prejudicar meu corpo, principalmente minhas articulações. Nas duas primeiras gestações, que aconteceram antes dos 30 anos, eu recuperei rapidinho. Na gravidez das trigêmeas engordei 30 quilos, sofri para perder, e demorei muito para voltar a fazer aulas.
O PALCO
Para subir no palco de novo, levei 7 anos. Hoje faço aulas bem esporadicamente. Com 40 anos e 5 filhos, fica complicado manter a rotina de aulas como eu gostaria, infelizmente. Minha rotina é bem puxada. Empreendo em três negócios diferentes, embora relacionados, mas com demandas distintas. O Ballet Carla Perotti é minha escola de ballet, onde atuo com diretora artística e pedagógica, também dou aula para algumas turmas. O Ballerine Atelier é uma confecção especializada em figurinos para dança, e sou responsável por desenhar todos os modelos de vestidos e fantasias. A Ciranda Brincadeiras é um espaço de livre brincar, uma espécie de brinquedoteca com oficinas e atividades para bebês e crianças de zero a 7 anos. Além da minha rotina profissional, tem a rotina das crianças, que tento encaixar na minha agenda como da. Luana e Alex estudam em uma escola, as trigêmeas Laura, Cecília e Melissa, em outra. Tem bastante leva e traz com atividades extracurriculares, casa de amigo, passeio e afins. Todos os 5 fizeram ballet quando pequenos. O menino fez por pouco tempo e logo quis parar. As meninas todas ainda fazem. Não sei se elas serão bailarinas, mas sinceramente não é um desejo meu. Se for delas terão meu apoio, como qualquer outra escolha que fizerem. Para elas ter uma mãe bailarina acredito que tenha uma influência muito grande. Elas gostam de me ver dançar, fazer aula, acham divertido eu também ter um professor. Tenho vontade de dançar um dia com minhas meninas no palco. Não posso demorar para realizar esse sonho, pois logo vai chegar a hora de me aposentar dos palcos.
CAMILA LORENZETTI: DUPLA JORNADA
Meu primeiro contato com dança foi aos 3 anos. Minha mãe sempre teve o sonho de dançar balé então me colocou bem pequena. Foram varias tentativas até me adaptar, ela conta até hoje que eu saia e entrava por vários anos. Foi só aos 7 anos que realmente me firmei e não sai mais. Por esses longos anos, tive a oportunidade de experimentar diversas modalidades, balé, danças urbanas, contemporâneo, sapateado e minha paixão que é o jazz, onde hoje que além de ser diretora da minha própria escola, em Barra Velha, Santa Catarina, é a área que atuo como professora e coreógrafa.
GRAVIDEZ
Não foi nenhuma surpresa descobrir que estava grávida, pois meus dois filhos foram planejados. E mesmo planejando vem a sensação de medo “agora como vai ser?”. Hoje sou mãe de dois meninos, o João pedro (4 anos) e o José Antônio (8 meses), minhas obras de arte mais perfeita, a melhor coreografia que já dancei, coreografei e assisto evoluir a cada dia. Na primeira gravidez , ministrei aulas até o final, as vezes esquecia que estava grávida e me pegava demonstrando um ‘grand jeté’ com uma barriga de 8 meses, lembro que participei do espetáculo de final de ano no dia 30 de novembro e fui o Papai Noel, por conta do barrigão e José nasceu 15 dias depois. Já na segunda um pouco mais cansada, acredito que por conta da idade, engordei mais do que devia e também tinha um filho cheio de energia me esperando em casa para brincar, então diminui minha carga de trabalho… Já não dava muitas aulas, mas mesmo assim andava de um lado para outro em festivais, respirando a dança.
DANÇAR
Sim nas duas gestações fiquei com medo de não voltar a dançar. Fiquei com muita vontade de desistir, chorava muito. Na segunda ainda mais, pensei em até vender a escola, pois achei que não ia dar conta. Chegou um momento que a dança não fazia mais sentido e sim apenas meus filhos, mas com o tempo isso foi passando e vemos que é apenas uma fase do puerpério, entramos em conflitos conosco. Filhos requerem muita presença nossa e eu me cobro muito nesse sentido, querer ser perfeita em tudo que faço e acabamos não dando conta. Hoje tenho uma rotina bem corrida, cheia de altos e baixo, é muito difícil, vivo um dia de cada vez, pois planejamento não existe, porque não sabemos oque vai ser amanhã, se fica doente, tenho que esquecer todos meus afazeres e correr para o médico ou simplesmente ficar em casa com eles no braço. Ainda não dou conta de tudo, talvez por meu pequeno ainda ser um bebê. Mas quando ocorre tudo como planejado parece que estou no céu. Acordar, dar mama, café da manhã, vou trabalhar, faço almoço, brinco, levo as crianças na escola, volto trabalhar, pego eles na escola, brinco, hora do jantar, banho e dormir! Ah, lembrando que ainda não estou na fase “dormir”, não sei oque é isso e depois começa tudo de novo. Mas não me arrependo de nada, sou muito feliz e grata a deus por cada passo da minha vida.
SALA DE ENSAIO
Meus filhos são ligados! Quando levo o João Pedro para os ensaios, ele corre pela sala, desliga o som, sobe nos cenários, atrapalha total os ensaios! (risos), isso quando é minha aula, mas ele adora entrar nas aulas do baby class, faz tudo, mas nem sempre quer ir, porque só temos meninas e ele fica com vergonha. O José como é bebê ainda não entende muito, fica no colo olhando, adora quando coloco a música. Não sei se serão bailarinos, mas irão gostar de arte. João que já entende, adora ver os espetáculos, mas não gosta de me ver dando aula e nem quando tenho que ir para festivais, pois quer a atenção para ele, nas palavras dele “mamãe é minha” …
Tatiana
•6 anos atrás
Linda matéria! Faltou a Silvia Gaspar, mãe (e bailarina do Grupo Corpo) mais incrível que eu conheço!