Criado em 2012 o BP atende hoje 200 crianças e tem mais de 2 mil na fila. Conheça esta história e contribua para a arte da dança do Brasil.
A delicadeza de Monica Tarragó, diretora artística do Ballet Paraisópolis, esconde uma luta diária. Fazer a dança acontecer cinco dias por semana na segunda maior comunidade da cidade de São Paulo. Num prédio alugado foram construídas salas de aula, a música clássica impera, os sonhos e desejos de um futuro melhor também e ali, naquela casa com uma obra de arte do Kobra no portão de entrada, 200 crianças entram e saem semanalmente. No próximo dia 29 de abril, comemora-se o Dia Internacional da Dança, uma data instituída pelo CID (Comitê Internacional da Dança) da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) no ano de 1982. E para comemorar essa data queremos dividir com você um pouco da história da Mônica e do Ballet Paraisópolis que tem como principal objetivo mudar vidas, transformar histórias. O Dia Internacional da Dança não é somente uma comemoração para validarmos estrelas da dança ou mesmo bailarinos profissionais, é para olharmos para dentro de nós mesmos e nos reconhecermos na arte que escolhemos para viver. Confira.
Como você “entrou” na dança?
Monica Tarragó: Eu escolhi a dança desde pequena. Já aos 4 anos de idade comecei a fazer minhas primeiras aulas de ballet com a Carla Perotti com o método da Royal Academy of Dance (RAD).
Pode nos contar um pouco da sua formação no Brasil?
Iniciei meus estudos em 1969 com a Carla Perotti e ao longo dos anos aperfeiçoei meus estudos e minha técnica com grandes mestres da dança do Brasil como:”Ady Addor, Ismael Guiser, Gisele Bellot, Jane Blauth, Lilia Shaw, Mirta Hermida, Neyde Rossi, Sacha Svetloff, Yellê Bittencourt, entre outros. Participei de grupos profissionais da cidade de São Paulo como Ópera Branca e Grupo Trilha.
Você também foi dançar na Europa…
Em 1989 viajei para Turim – Itália, onde fiz parte do grupo “Arcoballeno”. Por lá também ministrei aulas de ballet e moderno no Teatro Nuovo di Torino e participei do curso “La Tua Danza”, o qual levava dança para as escolas públicas da região. Nesse mesmo ano, conquistei o primeiro lugar no concurso coreográfico “Vignale Danza”. Realizei um curso para professores em Moscou-Rússia durante três meses e aprimorei os meus estudos e conhecimento da técnica Vaganova. Após retornar da Itália ao Brasil, continuei a ministrar aulas de ballet clássico e a partir de 2009 iniciei o trabalho social. Permaneci durante três anos ministrando aulas de ballet para crianças moradoras do Centro Comunitário Jardim Cristal em Interlagos. Eu era diretora, professora e mantenedora de todos os custos das aulas. Em 2010 comecei a idealizar o Ballet Paraisópolis e em 2012 o projeto foi criado.
Como é ver a sua filha seguindo os seus passos hoje?
A Sofia saiu do país na mesma época que eu sai. É muito bom vê-la feliz e trilhando seu caminho na dança. Meu desejo é que independente do lugar ou da escolha dela, é que ela seja feliz. Atualmente ela está em Barcelona no Centre de Dansa de Catalunya. Ela recebeu uma bolsa de estudos e ficará por lá até o final de 2019.
Como e quando nasceu o Ballet Paraisópolis?
Eu via a Comunidade de Paraisópolis de minha janela e sempre tive a vontade de ajudar. Em 2010 comecei a trabalhar no planejamento do projeto e em 2012 o Ballet Paraisópolis teve início com 100 crianças na faixa etária de 8 a 12 anos na União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis, com apoio de Gilson Rodrigues, e do Programa de Ação Cultural – ProAC. Atualmente os alunos são mantidos por meio da aplicação de Leis de Renúncia Fiscal como a Lei Rouanet, ProAC ICMS e Pro-Mac. Atualmente possuímos 200 crianças e adolescentes beneficiados e uma fila de espera com mais de 2.000 nomes.
O que significa esse projeto para você?
Minha vida! No Ballet Paraisópolis dizemos que transformamos a vida diariamente dos alunos, um dia conosco é um dia fora das ruas. Por meio de um trabalho de excelência e de amor, conseguimos oferecer condições plenas de aprendizado e novas oportunidades de vida aos alunos. Mesmo que eles não sigam a carreira artística, estarão preparados e qualificados para o mercado de trabalho.
Como é o processo de audição das crianças?
Realizamos um Exame de Seleção por ano. No dia da avaliação contamos com a presença de toda nossa equipe de professores, pedagogos, produtores e convidados. Os alunos não precisam ter conhecimento em dança, são avaliados quesitos como coordenação motora, alongamento, musicalidade, noção espacial, elementos da psicomotricidade, relação interpessoal, desenvolvimento cognitivo, entre outros. Após o Exame os pais e responsáveis pelos alunos aprovados permanecem com a nossa equipe durante 2h para que possam conhecer as regras, a conduta do projeto, o planejamento anual de aulas, ensaios, apresentações e atividades culturais.
Como funciona a rotina de aulas?
As crianças pertencentes aos primeiros anos de ballet fazem duas aulas por semana com duração de uma hora e a partir deste ano foram integrados quinze minutos de pilates, o qual antecede o início da aula. O aluno é avaliado diariamente e de acordo com seu desenvolvimento e evolução é convidado a participar de um número maior de aulas e atividades. A partir do quarto ano os alunos realizam aulas de segunda a sexta-feira de ballet clássico, dança moderna (técnica de Martha Graham) e dança contemporânea. Além disso, às terças-feiras os alunos realizam um trabalho de prevenção com a nossa fisioterapeuta voluntária. O nosso curso é totalmente gratuito e tem duração de 8 anos. Os alunos recebem uniformes (agasalho, calça, camiseta, bolsa, tênis, rede para cabelo, collant, meia calça, sapatilha de meia ponta e de ponta), figurinos sob medida e usufruem de todas as atividades propostas gratuitamente. A Só Dança é uma grande parceira do projeto, sendo nossa representante em todos os materiais de dança utilizados pelos alunos.
Vocês se apresentam muitas vezes ao ano e isso é importante para as crianças.
No ano passado (2018) realizamos 35 apresentações, as quais abrangeram espetáculos autorais e participações em eventos e mostras de dança. Faz parte do nosso programa pedagógico que os alunos estejam em cena, dessa forma eles podem desenvolver e fortalecer a forma de lidar com a plateia, a autoestima, a noção espacial, a pressão, assim como suas responsabilidades e comprometimento com horários, alimentação, concentração, entre outros.
Podemos dizer que o BP modifica as famílias e não só as crianças?
O Ballet é transformador, ele traz muita responsabilidade, organização e muda os hábitos alimentares das crianças e de seus familiares. O que é ensinado dentro da sala de aula é levado para casa também.
Conte um pouco sobre os espetáculos que vocês produzem?
Realizamos muitos espetáculos ao longo do ano. Temos um grande repertório de coreografias autorais que se dividem em ballets clássico livre, neoclássico, contemporâneo e samba. Além disso, contamos também com remontagens de ballets de repertório clássico, como por exemplo, um trecho do primeiro ato de “O Lago dos Cisnes” e do ballet “Coppélia” (conjunto Amigas de Swanilda), pas de deux e variações clássicas femininas e masculinas. Todos os espetáculos são especiais para nós, mas destacamos o espetáculo “Marias” que aconteceu no dia 23 de novembro de 2018 no Auditório Ibirapuera Oscar Niemeyer, pois conseguimos levar ao palco todos os nossos alunos, sendo uma produção e concepção autoral do BP. E para esse ano, já confirmamos a nossa apresentação no Auditório Ibirapuera 2019, ela acontecerá no dia 23 de novembro (sábado) às 19h, curiosamente na mesma data do ano passado. O espetáculo terá entrada gratuita, indicação livre e contará com audiodescrição e tradução simultânea em libras.
Recentemente vocês receberam um prêmio importante…
No dia 26 de março recebemos uma notícia que nos encheu de orgulho e felicidade. Nosso projeto foi escolhido pela Seleção de Projetos 2019 da Brazil Foundation. Após um criterioso processo de avaliação, 40 organizações sociais de 15 estados brasileiros foram contempladas. A Brazil Foundation mobiliza recursos nacionais e internacionais para ideias e ações que transformam o Brasil, promovendo um futuro de igualdade de acesso, justiça social e oportunidades para todos os brasileiros. É muito importante ter o reconhecimento de nosso trabalho ainda mais quando se trata de uma instituição renomada que atua nacional e internacionalmente.
O que falta ao BP? Como as pessoas podem colaborar?
O nosso maior desafio é dar continuidade ao nosso trabalho, para isso o Ballet Paraisópolis está aberto a parcerias e patrocínios. Você (pessoa física) ou sua empresa podem ser doadores através de incentivo fiscal por meio da Lei Rouanet, Programa de Ação Cultural (ProAC ICMS) e Programa Municipal de Apoio a Projetos Culturais (Pro-Mac). Por ser uma instituição sem fins lucrativos, o BP está apto a receber doações diretas. Em nosso site temos uma página ondes os visitantes podem realizar doações de acordo com sua vontade, é rápido e fácil. Atualmente contamos com uma sede localizada dentro de Paraisópolis que é alugada. O valor do aluguel, assim como de outros estabelecimentos de Paraisópolis, é muito alto. É um desafio mantê-lo durante o ano, nosso sonho seria conseguir nossa sede própria, na qual pudéssemos beneficiar um número maior de alunos e desenvolver outras atividades complementares ao nosso curso. Precisamos diminuir a fila da lista de espera. Também gostaríamos de realizar mais atividades educativas culturais, para isso precisamos contar com transporte para os eventos, como por exemplo: van, micro-ônibus e/ou ônibus. Interessados podem ter mais informações sobre os procedimentos pelo [email protected]
O que é a Dança para a Monica?
A dança é minha vida. E ela traz para o aluno determinação, comprometimento, respeito, postura… princípios e valores que serão fundamentais para a vida deles.
Em tempo: O BP integra sempre o Carnaval paulista na G.R.E.S. Acadêmicos do Tatuapé e fazem bonito. Confiram:
Monica
•5 anos atrás
Boa tarde
Gostaria de saber se custe um projeto para o Rio de janeiro de balé? Obrigada
Monica