Com coreografia de Katia Barros, a superprodução estreia no Teatro Santander, em São Paulo
Marcela Benvegnu | [email protected]
Annie é daquelas histórias que todo mundo já viu e também já chorou. Baseada nos quadrinhos Little Orphan Annie (“Annie, a Pequena Órfã”), de Harold Gray, ela chega ao Brasil, pela Atelier de Cultura, em forma de musical no Teatro Santander, em São Paulo. Apresentado sob licença da Music Theatre International, tem coreografias de Katia Barros, direção de Miguel Falabella, músicas de Charles Strouse, letras de Martin Charnin, libreto de Thomas Meehan e, claro, um elenco afinado. A montagem promete ser uma das grandes sensações do segundo semestre de 2018.
A peça estreou na Broadway em 1977 e venceu seis Tony Awards, incluindo o de melhor musical. Fenômeno mundial foi produzida em mais de 40 países e ganhou as telas do cinema três vezes: em 1999, 1982 e 2014. A versão brasileira conta com 25 números musicais e segundo Falabella, “é um clássico feito de forma clássica”. Sim, a afirmação faz jus ao que se vê em cena. O espetáculo empata com a produção americana e não deixa nada a desejar. Os personagens, embora ainda estejam entrando nos papéis, estão “na medida”. Nem mais, nem menos.
O enredo gira em torno da pequena Annie, uma menina de 11 anos que vive em um orfanato ao lado de Molly, Kate, Tessie, July, Duffy e Pepper, que é comandado pela senhora Hannigan, interpretada por Ingrid Guimarães – que estreia em seu primeiro musical. Depois de tentar fugir para encontrar seus pais que ela acredita estarem vivos, e adotar o cachorro Sandy, ela é trazida de volta para o lugar e acaba sendo escolhida para passar o Natal na mansão do bilionário Oliver Warbucks (Falabella). Annie se aproxima do homem ranzinza e solitário, subvertendo seu cotidiano, fazendo-o aproximar-se dos valores da amizade, da compreensão e do amor. E até parece verdade: a gente acredita que ele mudou. A cena da adoção de Annie faz os olhos marejarem.
Para selecionar o elenco foram realizadas audições em São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Brasília e Curitiba num total de mais de 3.500 crianças. Uma série no YouTube chamada Procurando Annie foi lançada para aguçar a percepção do público em torno do musical. Em preparação para a audição final, mais de 90 selecionadas de todo o Brasil receberam intenso treinamento em São Paulo, por 3 dias. Deste número foram escolhidas as 21 crianças do elenco (elas se subdividem em três elencos mirins), entre elas Luiza Gattai, Maria Clara de Rosis e Sienna Bellle que dão vida à protagonista. “Temos aqui uma geração de meninas já nasceu assistindo e estudando teatro musical no Brasil. Preparamos um espetáculo que vai encher nossa plateia de graciosidade, de esperança e de amor. Annie é daquelas histórias que encantam pela inocência da protagonista e nos fazem aprender. É um grande orgulho dirigir esta superprodução”, afirma Falabella.
Na preview – apresentada na noite de 29 de agosto – Sienna Belle deixou o público embasbacado, não só pela sua voz de timbre forte e preciso, mas pela interpretação, por segurar muitas das cenas do espetáculo – que tem duração de 2h40 – e por estar completamente conectada com tudo. Ela também tem uma missão importante, dar os comandos para Sandy, o cachorro. Sandy é na verdade Scot ou Lisa – da raça Podengo Português Médio Pelo Cersoso – que se revezam nas apresentações. O elenco teve que aprender os comandos para que “Sandy” pudesse participar e também “arrasar”. A plateia se derrete quando ele entra em cena, e claro, acerta sua marcação em troca de um petisco guardado no bolso de Annie e dado quase invisivelmente para ele.
MÚSICA E MOVIMENTO | O musical carrega também a assinatura de Katia Barros (que assinou outras obras do Atelier de Cultura como “A Madrinha Embriagada” e “O Homem de La Mancha”) e tem coreografias e marcações de corpo do elenco durante toda a encenação. “Criei a coreografia pensando no corpo de cada um. Eu já tinha trabalhado com o Baccic (Rooster) anteriormente e conhecia a dinâmica do corpo dele. Com a Ingrid, por exemplo, por conta de a personagem ter um certo desequilíbrio, eu usei isso na construção de corpo dela. A direção de movimento partiu então das qualidades individuais de cada um para encontrarmos a voz de cada intérprete”, conta a coreógrafa. “Com as crianças não foi diferente, porém, foi preciso tirar as marcas do que elas já tinham trazido, visto e estudado sobre a Annie, porque queríamos construir a personagem de cada uma delas, entender como era o corpo de cada uma”, completa.
A movimentação que apresenta cenas de jazz, balé clássico e sapateado se apoia na década de 30. “Eu optei por não modernizar isso, porque não era necessário”, fala Kátia. O público poderá ver muito movimento também nas transições de cena que dialogam com o impecável cenário de Matt Kinley. Vale falar da direção musical de Daniel Rocha. Delicado e apurado ele atualiza o fosso acústico da década de 70 – estreia de Annie – e nos coloca ora dentro do orfanato, ora nas ruas de Nova York com a precisão sonora. “Esse é um musical muito especial e costumo falar que o Charles Strouse sabia realmente escrever para crianças porque são notas que elas realmente alcançam. As crianças hoje vêm crescendo muito nesse mercado que já está estabelecido. Brinco que é uma pororoca de talentos”, completa.
Annie é daqueles musicais que a gente sabe o final feliz e sai do Teatro cantarolando a música tema com uma certeza: o teatro musical brasileiro é rico, impecável, merece ser visto e aplaudido. E sempre é preciso lembrar: ele também é feito por muitos artistas invisíveis, que estão atrás das cortinas, cujo trabalho de meses se reflete no elenco. É um grande time, para como diz Annie, “o sol brilhar amanhã”. O desta produção já está irradiando o dia.
PARA VER | Annie – O Musical |Teatro Santander (Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, 2041 – Itaim Bibi – São Paulo – dentro do Shopping J.K Iguatemi), Quintas e Sextas às 21h; Sábados às 16h30 e às 21h; Domingos às 15h e às 19h. Ingressos variam de R$ 75 a R$ 310. O espetáculo tem 2h40 (com 15 minutos de intervalo) e a classificação é livre.
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