Musical marca a estreia da coreógrafa Deborah Colker na direção de um espetáculo teatral
Marcela Benvegnu | [email protected]
Rio de Janeiro, 1976. Se você procurava um lugar para celebrar algo, esse espaço era a Frenetic Dancing´Days Discotheque, que marcou a chegada da discoteca no país e foi idealizada pelos amigos Nelson Motta, Scarlet Moon, Leonardo Netto, Dom Pepe e Djalma Limongi. Quatro décadas depois é hora de aumentar o som e reviver essa história. Ao lado de Patrícia Andrade, o próprio Nelson Motta assina a história de ‘O Frenético Dancin´Days’, musical em cartaz no Teatro Bradesco Rio, que marca a estreia da coreógrafa e bailarina Deborah Colker na direção de um espetáculo teatral. Com previsão de estrear em São Paulo no início de 2019, o musical está com sessões praticamente esgotadas – eles abriram extras aos domingos, às 15h – e fica em cartaz até dia 21 de outubro.
O Frenético Dancin´Days é uma produção com 16 atores e sete bailarinos, escolhidos através de audições, à exceção de Stella Miranda – uma das mais importantes atrizes de musicais do país – que foi especialmente convidada para o projeto. Além de Stella, que interpreta Dona Dayse, o elenco é formado por: Ariane Souza (Madalena), Bruno Fraga (Nelson Motta), Cadu Fávero (Djalma Franco Kuster (Léo Netto), André Ramiro (Dom Pepe), Gabriel Manita (Tony Manero/Inácio/Catarino), Karine Barros (coro/stand in feminino), Larissa Venturini (Scarlet), Natasha Jascalevich (Bárbara), além das Frenéticas: Carol Rangel (Edyr de Castro), Ester Freitas (Dhu Moraes), Ingrid Gaigher (Lidoca), Julia Gorman (Regina Chaves), Larissa Carneiro (Leiloca) e Ludmila Brandão (Sandra Pêra).
“Eu sabia da potência, da força do Dancin´Days, de como ele mudou a cidade. A boate chegou com esse caráter libertário, lá as pessoas eram livres, podiam ser como elas são. Isso tem uma grande força política, social, filosófica, artística. Não há nada como o livre arbítrio, estar em um lugar onde você vai ser quem você é”, fala Deborah. “O Dancin´Days foi uma ilha de liberdade e alegria. Vínhamos de 12 anos de ditadura, estávamos mesmo precisando soltar as feras e cair na gandaia”, completa Nelson Motta.
Deborah Colker (premiada na Rússia com o Prix Benois de la Danse, considerado o Oscar da Dança) assina também as coreografias (ao lado de Jacqueline Motta) e traz para a cena uma ficha técnica de peso: Gringo Cardia (cenografia e direção de arte) – que é parceiro dela há anos Maneco Quinderé (desenho de luz), Alexandre Elias (direção musical), Fernando Cozendey (figurinos) e Max Weber (visagismo). Os cenários e figurinos recriam a atmosfera disco, mas com uma identidade própria. “A minha inspiração foi a estética de como as pessoas se comportavam na época e o quão ousadas eram no vestir”, explica Fernando Cozendey. “O desafio foi trazer o shape 70 atualizado, criar algo que ainda provocasse espanto, alegria e libertação para um público em 2018. O espetáculo para mim é sobre transgressão de ser, vestir, dançar, existir”, acrescenta.
A direção musical de Alexandre Elias também acompanha o espírito da época e inova ao trazer um DJ pilotando a música ao vivo. “Quando a Joana Motta me convidou para esse projeto, ela veio com essa “sacada” que iríamos contar a história de uma discoteca e que devíamos ter um DJ. E, no caso do Dancing´Days, o DJ Dom Pepe era uma das figuras centrais”. Para construir os arranjos, Elias passou meses pesquisando e optou pela técnica dos samples. “Estamos usando tecnologia de ponta nessa área, misturei elementos dos arranjos originais, que são clássicos presentes na nossa memória afetiva, com ideias minhas e da direção, para chegarmos ao resultado final”, explica Alexandre. “Eu adoro dançar, eu adoro dança, tudo que se movimenta. E para dançar você precisa de música. E música boa é a junção perfeita. E não tem como o Dancin´Days não ter isso, é uma música muito boa, é a melhor. É um iluminismo!”, fala a coreógrafa.
FRENÉTICAS | Nada causou tanta sensação na época quanto o surgimento das Frenéticas. Contratadas inicialmente como garçonetes, elas também faziam uma breve apresentação durante a madrugada. O sucesso foi imediato: Leiloca, Sandra Pera, Lidoca, Edyr, Dhu Moraes e Regina Chaves logo abandonaram as bandejas e assumiram os holofotes. Elas foram o primeiro grupo contratado da multinacional Warner, que estava aportando no Brasil. O país inteiro cantou ‘Dancin´Days’ (Abra suas asas, solte suas feras, caia na gandaia, entre nessa festa….), ‘Perigosa’, ‘O Preto que satisfaz’, entre tantas outras. “As Frenéticas foram obra do acaso e, claro, do talento de seis garotas que eram atrizes desempregadas, começaram como garçonetes do Dancin´Days e, no fim da noite, cantavam quatro músicas. Foi um estouro! O Dancin lotava só para ver as Frenéticas, que se tornaram as rainhas da discoteca no Brasil”, aponta Nelson.
A boate funcionou por apenas quatro meses, pois o contrato era limitado ao período que antecedia a abertura do Teatro dos Quatro, no Rio de Janeiro, porém, ela celebrava um Rio e um país que conseguiam ser livres, apesar da ditadura militar. A casa reunia famosos e anônimos, hippies e comunistas, todas as tribos com o único objetivo: o de celebrar a vida. O sucesso foi tamanho que a casa foi reaberta no Morro da Urca e inspirou a novela ‘Dancin´Days’, de Gilberto Braga, que tinha a música homônima das Frenéticas como tema de abertura, na TV Globo.
O espetáculo chama o público para cantar grandes clássicos da discoteca como ‘I Love the Nightlife’, ‘You Make me Feel Might Real’, ‘We are Family’, ‘Y.M.C.A’, ‘Stayin´alive’, além de clássicos das Frenéticas e grandes sucessos nacionais da época, como ‘Marrom Glacê’ e ‘A noite vai Chegar’, entre outros. É para assistir e depois, sair para dançar.
PARA VER: ‘O Frenético Dancin´Days’. Teatro Bradesco Rio (Avenida das Américas, 3900 – loja 160 do Shopping VillageMall – Barra da Tijuca). Sextas às 21h, sábados, às 17h e 21h, domingos, às 15h e 18h. Ingressos variam entre R$ 37,50 e R$ 160. Classificação livre. 120 minutos.|www.teatrobradescorio.com.br
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